Evoluções

É a pele, sabe?
A fusão das energias acontece bem ali, poro a poro. Aquele fervor súbito, trôpego, rápido, que por alguns instantes balança os sentidos e faz o mundo interior parecer maior. A pele, fio a fio.

É o cheiro, sabe?
Aquele golpe certeiro, o bálsamo que faz parar o tempo por alguns segundos eternos em meio ao turbilhão de caos chamado vida. Faz morada na memória,preenche cada pedacinho dela e desperta ao menor sinal.

É o gosto, sabe?
Doce e salgado, diametralmente complementares. Sentido? Nenhum. É uma revoada, uma força que invade a boca, cola na língua, escorrega pro estômago e faz marca. Acompanha pra todos os lados que se vá. 


~ Puxou a agulha e verificou se a costura havia ficado firme. Sim, havia. Deu um sorriso de satisfação pelo trabalho bem executado e contemplou a peça recém adicionada ao conjunto: era vermelha, com alguns toques alaranjados e pequenas partículas acinzentadas, que fugiam ao olhar quando se buscava encarar diretamente uma a uma. Tinha cheiro de entardecer no campo, com um toque de orvalho. O trançado dos fios era forte, resistente, porém de uma leveza jamais antes vista nos outros retalhos. Encostou o rosto no tecido e constatou que a sua leveza o fazia ser extremamente maleável e confortável, de modo que se adaptava às curvas do rosto sem agredi-lo ou sufocá-lo. Olhou pra todo o conjunto da colcha de seu afeto e sorriu satisfeita em acompanhar o traçado da linha que, sem menosprezar as peças antigas, ia se tornando mais firme  e complexo. A peça vermelha, ariana impetuosa, estava longe de se dar por finalizada ~

quarta-feira, 19 de abril de 2017

 
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