"All I did was love you, now I hate the nightmare you've become."
~ Desistiu.
Deixou as pernas cederem ao cansaço, encolheu os ombros sob o peso das batalhas perdidas,guardou a espada cega que trazia em punho e sentou-se no chão frio. Olhou então, para trás e contemplou a estrada que tinha optado seguir há pouco mais de um ano.Quase não reconheceu os percalços, as pedras, os espinhos e as escassas flores,de tão cansados que estavam seus olhos.
Aquela estrada, aquela mísera fração da sua vida, parecia ter o peso de mil existências. Sentada no chão, ela percebeu que tempo e quantidade pouco tem relação com intensidade e qualidade. Esse um ano e cinco meses, esses mais de 500 dias, foram mais do que suficientes para destroçar tudo, mas nem de longe o suficiente para reconstruir nem que fosse uma trincheira, um buraco no chão onde ela pudesse se proteger.Ela optou por pegar tudo o que era e jogar numa existência limitada, numa vivência efêmera, naquela estrada sedutora que a princípio não parecia tão ínfima. E foi feliz.
Mas não mais. Agora até as coisas mais básicas como respirar e andar parecem difíceis, como se todo o aprendizado, toda a essência não passassem de uma lembrança machada de tempos ensolarados. Nada do que ela foi um dia está inteiro e ela não sabe mais como viver.Na estrada, pelas esquinas e imensas depressões do caminho, os pedaços de sua existência machucada e desprezada murcham ao chão daquele solo morto e completamente infértil.
Olhou pra espada, seu único instrumento para abrir a mata fechada à sua frente, fazer uma nova estrada e uma nova existência.Uma espada cega.Nada de atalhos ou caronas, o caminho tinha que ser feito unicamente por ela, sozinha, com um instrumento completamente frágil diante da selva brava à sua frente.Respirou fundo, sentindo arder os pulmões. Respirar doía. Viver doía.Levantou. ~
Quando a dor é recente, ela é concentrada. Você consegue enxergar a ferida,que coisas afetam diretamente ela,o que evitar e às vezes, como anestesiar um pouco. Quando a dor é antiga, ela se enraiza. Daquelas raízes que não tem uma principal,axial, é toda espalhada.Fica difícil enxergar pontos claros, fontes de mágoas, feridas não fechadas. Tudo dói. Tudo incomoda. Tem um pedaço de dor em cada canto, o corpo inteiro responde, a cabeça dói, o estômago queima,a energia fica baixa. É quase impossível fugir, anestesiar, esquecer. É uma sombra ali todo o tempo contigo,até no escuro.É tão presente que você quase crê que vai viver com aquilo dentro de ti pelo resto da vida. Talvez viva. A dor vira uma corrente enorme, com elos de titânio ardente que se multiplicam e crescem em todas as direções.Pesa nos punhos,nos olhos, nas costas.Na alma.
Não existem mais uma ou duas palavras que machucam, um ou dois atos que cutucam a ferida e a faz sangrar de novo. É só essa coisa suprema, onipresente. Dor. Tanto que às vezes ela mesma se anestesia.E aí, a floresta fechada na sua frente parece abrir mais um pouquinho. Pela dor você caiu e é por ela que vai conseguir levantar.
Não existem mais uma ou duas palavras que machucam, um ou dois atos que cutucam a ferida e a faz sangrar de novo. É só essa coisa suprema, onipresente. Dor. Tanto que às vezes ela mesma se anestesia.E aí, a floresta fechada na sua frente parece abrir mais um pouquinho. Pela dor você caiu e é por ela que vai conseguir levantar.
"I've tried so hard to tell myself that you're gone
but though you're still with me
I've been alone all along."
but though you're still with me
I've been alone all along."