Os lírios balançavam ao ritmo do vento.Caminhando por entre eles, a menina vestida de sonhos e vontade parou por um instante ao perceber que o ar a sua volta tinha adquirido uma densidade estranha, quase hostil.Olhou para trás e se deparou com um campo de flores secas. Os lírios pelos quais ela havia passado e regado, não passavam de uma massa escura e feia agora.O ar ali atrás não só era denso, mas ácido e cortante.Ela tossiu, sentindo os pulmões se encherem daquela nuvem tóxica e se virou para a frente de novo.
"Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros."
Ela sabia que se continuasse caminhando, aquele campo vívido e dançante de lírios à sua frente também se tornaria parte daquela massa necrosada do caminho já trilhado.Como um carma, como uma maldição, ela sabia que era exatamente a sua passagem por aquele rumo mais que almejado, que destruía e queimava os tais lírios.
"Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra."
Ela sabia, também, que parar de tentar chegar onde sempre quis e se manter imóvel para não afetar as flores, não era uma solução viável. A terra sob seus pés nus imediatamente queimava feito ferro em brasa, como se a expulsasse dali.E ela tinha que retomar o passo.
"Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era."
Tinha absoluta convicção de que não era desejada ali. Ela não pertencia àquele lugar, não tinha o direito de andar por sobre aquelas terras sagradas. Aquele campo de lírios nunca, nunca seria seu.
"Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade."
Ela andava,então.Com a certeza de que a cada passo seu, o horizonte e o lírio mais precioso se afastavam uns cem quilômetros. Ela andava.
"Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade."
imbigo
Há 3 anos